sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Pernas para que te quero

Ao chegar a Londres, e depois de tratar das questões essenciais, como a inscrição no centro de saúde ou a abertura de uma conta bancária, comecei a procurar outros serviços básicos, como uma esteticista. Quando perguntei quanto me custaria esse grande luxo que é fazer a depilação, disseram-me que seria, no mínimo, 80 libras. Passado o choque inicial, pensei nos benefícios de manter as pernas quentinhas no Inverno. E recebi inclusivamente sugestões para iniciar a moda das trancinhas.
Já estava conformada quando, para sorte minha, descobri no meu bairro, algumas semanas depois, dois cabeleireiros com depilação a 25 libras. Suspirei de alívio. Sempre é mais acessível. Antes de escolher qual será o meu eleito, decidi testar os dois. Já experimentei a esteticista tailandesa e gostei. A leve massagem no final e a musiquinha de elevador oriental são muito relaxantes. Agora falta-me experimentar a outra, que descobri entretanto que é brasileira, tal como a maioria dos empregados daquele cabeleireiro. Enquanto arranjava as mãos, e quebrada a barreira da língua, fiquei a saber que a manicure está quase a separar-se do namorado e vai ficar sozinha em Londres, e que costuma ir ali uma tal prima da rainha. Na televisão passava um desfile do Carnaval do Rio de Janeiro para uma cliente que queria aprender a dançar. Quando me vinha embora, outra cliente, já de cabelos brancos, sambava com estilo no meio do salão. Se aquele cabeleireiro for sempre assim tão animado, acho que já escolhi onde ir.

Royal borough

Andando por Londres e olhando para as tabuletas com o nome das ruas, depressa me saltou à vista o facto de o bairro onde vivemos ser um royal borough (como se pode ver na foto da coluna da direita deste blogue).
Esta semana, ao visitar o Town Hall (qualquer coisa equivalente à junta de freguesia), o Mayor explicou-nos a origem daquela designação. A Rainha Victoria nasceu em 1819 no Kensington Palace, ainda hoje ocupado por membros da família real, e sempre manifestou o desejo de atribuir o estatuto Real ao bairro onde nascera. A Rainha morreu em Janeiro de 1901 sem ver o seu desejo cumprido, mas, em Julho do mesmo ano, o seu filho e sucessor Edward VII (na foto) conferiu o referido estatuto ao bairro, que passou a chamar-se The Royal Borough of Kensington (Chelsea era na altura um bairro à parte). Apenas Kingston upon Thames e Windsor and Maidenhead receberam a mesma distinção em todo o reino.
Ao chegar a casa, descobri que King Edward VII, nada mais nada menos do que Eduardo VII de Inglaterra, teve a honra de ver baptizado com o seu nome o maior parque do centro de Lisboa em 1903, após a sua visita no ano anterior a Lisboa, para reafirmar a aliança entre os dois países. Cento e seis anos depois, somos nós quem presta uma visita (um pouco mais demorada) a Inglaterra, para manter boas relações entre os dois países.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Linguagem das árvores

Num agradável passeio, esta manhã, pelo Holland Park, descubro a linguagem das árvores. Enquanto umas, despidas, anunciam o fim do Outono...

... outras, vigorosas, a(ze)divinham a chegada do Natal.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

It's Christmas time

Não sei se foi essa a intenção, mas tive a sensação de este fim-de-semana ter sido escolhido para declarar oficialmente aberta a época natalícia em Londres. Passada a febre do Halloween e da Bonfire Night, as montras substituem agora as abóboras e as tabuletas a dizer «Vende-se fogo de artifício» por Pais Natais. A  animação começa nas ruas, nos mercados, nos parques e nos museus. Há feiras de Natal, ringues de patinagem no gelo, parques de diversões e luzes de Natal por todo o lado.
Apesar da chuva, quisemos entrar no espírito e fomos ontem visitar a Winter Wonderland, no Hyde Park. Há tendas com artesanato e bugigangas, barraquinhas com comida e doces, renas e bonecos de neve, música ao vivo, um ringue de patinagem no gelo, muitos carrosséis e uma roda gigante. Os olhos do D. e da L. brilhavam, mas quem não tirava o sorriso do rosto era eu. Com a desculpa de acompanhar a L., andei num carrocel à antiga, com os cavalos a subir e a descer, e o T. desceu num escorrega em caracol em cima de um tapete. Cheguei a casa com o cabelo a pingar, mas muito empolgada com a excitação.

Hoje decidimos fazer um programa diferente e ir ao Natural History Museum, mas não escapámos ao espírito natalício. Esperavam-nos à entrada mais um carrossel e um ringue de patinagem (na imagem da direita, a zona azul ao fundo). Ainda não foi desta que me atrevi a patinar no gelo - a pista estava cheia de água da chuva e uma queda ali iria custar-me uma grande molha -, mas lá fui outra vez dar uma voltinha no carrossel. Quando saimos do museu, por volta das 6 da tarde, já era noite cerrada, e a imagem das luzes (nas árvores, no ringue e no carrocel) fez-me sentir uma criança outra vez. Vou já começar a escrever uma carta ao Pai Natal.

sábado, 21 de novembro de 2009

Bravo

Sinto-me como se estivesse de ressaca, depois da noite passada. O D., que já mal acorda durante a noite, resolveu chamar-me várias vezes para comer. Passada a irritação, lembrei-me do Brazelton, meu companheiro de cabeceira. Diz ele que todas as crianças passam pelos chamados pontos de referência: períodos de retrocesso que antecedem ou acompanham períodos de desenvolvimento. Tudo indica que é este o caso. A noite difícil que passou o D. explica-se muito simplesmente pelas novidades e pelos progressos que tem tido recentemente. Para além dos dois dentes que já lhe nasceram, já se senta sem apoio (embora caia frequentemente), vai conseguindo levantar-se e voltar a sentar-se, adora agarrar-se às costas do sofá e tentar pôr-se de pé, se lhe pusermos uma mão a servir de apoio para os pés consegue arrastar-se para chegar aos brinquedos, brinca sozinho durante breves períodos, diverte-se como nunca no banho, levanta a mão como se quisesse dizer adeus. Há pouco, vi-o bater as primeiras palminhas. A alegria foi tanta que cheguei a pensar que não me vou importar se ele me acordar muitas vezes esta noite.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Fato escuro

Três meses depois de aterrarmos em Londres, chega o tão aguardado momento: o primeiro convite. O problema foi que, no espaço de uma semana, chegaram logo o segundo e o terceiro. Um almoço formal, um jantar informal e, agora, um jantar formal. No convite vem a indicação: «fato escuro». Leiga nestas matérias, fui imediatamente em busca do verdadeiro significado do termo. Descobri que corresponde, em inglês, a «informal dinner». Mas, de informal, tem pouco. Os homens devem levar fato escuro, gravata de tecido nobre (seda), mas discreta, e sapatos pretos. As senhoras, vestido, tailleur ou conjunto de duas peças em tecidos nobres, sapatos e carteira de pele com brilho, metalizados, em camurça ou em tecido.
Consultado o guarda-roupa, cheguei à conclusão de que precisava de ir às compras. Parti em busca de um vestido nas lojas da Kensington High Street, mas sem sucesso. Em desespero, decidi ir ao Westfield, «the largest in-town shopping and leisure destination in Europe». Saí de lá com os pés desfeitos, mas com dois vestidos, sóbrios, que me pareceram adequados.
Ao dirigir-me para a saída, comecei a aperceber-me de uma grande fila de pessoas, sobretudo raparigas, vestidas como se fossem para um casamento. Saltos altos, lantejoulas, maquilhagem excessiva. O motivo? A Mariah Carey estava lá para ligar as iluminações de Natal do centro comercial e para dar autógrafos do seu novo álbum.
Comparando a formalidade do meu jantar e daquele evento, passou-me pela cabeça voltar atrás e comprar um dos inúmeros vestidos espampanantes que se vêem nas lojas e que se viam naquela fila. Mas como sou tudo menos fã da Mariah Carey, não me deixei conquistar pelo mau gosto. Corri para apanhar o autocarro 49 e vim para casa ouvir antes o CD Joana Come a Papa, do José Barata Moura, com os meus filhos.

Lesson number two

Uma mudança nunca é fácil, sobretudo para as crianças. A L., depois de uma fase mais conturbada, parece estar finalmente adaptada: ao novo país, à nova casa, à nova escola, à nova língua. Ontem tive uma reunião com a professora dela. Diz ela que a L. é uma criança feliz, muito activa (mas isso já nós sabíamos) e que aprende depressa. Compreende bem o que lhe dizem e já consegue dizer muita coisa em inglês.
Em casa, já começou a misturar as línguas e não raras vezes diz coisas como: «Mamã, quero grapes, please» ou «Mummy, quero milk com chocolate e torradinha com doce de pumpkin». Outras vezes, inventa. Há dias pegou num livro que estávamos a ler e disse: «Agora vou ler o livro em inglês.» «Está bem», respondi. «Blanhubpod ing, blu prixowed ing, nha aquinerut ing, somelidov ing...»
A pronúncia, por seu lado, ainda não está muito bem trabalhada - com raras excepções. É o caso dos números. Se o três sai mal, o quatro sai perfeito: «one, two, sree, fôo...». Mas a mais cómica de todas foi da palavra «ginástica». Esticou o lábio superior para a frente e com a boca em formato de grão-de-bico disse: «gymnastics». Desatei a rir. Ela responde com um ar sério: «Mãe, é 'ginástica' em inglês!».

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

«Oooohhh, really??!!»

Quando nos mudámos em 2006 para o nosso apartamento em Lisboa, deixámos de ter televisão em casa. Mais tarde, quando a fomos buscar ao armário do escritório, só ligámos a antena com os quatro canais. Por isso, quando íamos a casa dos meus pais, que têm a Zon, passávamos (passamos) muito tempo a ver televisão. Um dos programas onde páro muitas vezes, não sei bem porque razão, é o Antiques Roadshow, um programa inglês sobre velharias e antiguidades, onde especialistas avaliam e comentam peças e móveis, explicando a sua origem e o seu valor. Sempre achei piada à reacção dos donos das peças ao saber o seu valor. «Oooohhh, really??!!»
Chegados a Londres, ficámos umas semanas instalados num hotel antes de nos mudarmos para esta casa. Os canais de televisão eram bastante maus, mas fomos fazendo zapping para nos distrairmos. Não só vimos por diversas vezes o Antiques Roadshow, como descobrimos outros programas do género, que passam constantemente na televisão: o Cash in the Attic e o Bargain Hunt. Comecei a achar que isto dizia alguma coisa sobre os ingleses.
Hoje, depois de almoçar com o T., dei um passeio por Knightsbridge, zona do famoso Harrods, e apanhei o autocarro 9 de regresso a casa. Sentei-me no andar de cima, na terceira fila. Atrás de mim, três ingleses conversavam animadamente sobre a feira que iam visitar: a Winter Olympia Fine Art & Antiques Fair, em Olympia, onde em tempos se fazia a Feira do Livro de Londres. Falavam sobre a cómoda que compraram na feira do ano passado, sobre outras feiras de antiguidades, sobre o preço das peças, sobre os orçamentos, sobre os leilões e sobre as melhores estratégias para conseguirem fazer bons negócios. Não aprendi nada, mas fiquei seriamente tentada a ir à feira. Afinal, não me posso integrar se não conhecer os costumes britânicos, por mais excêntricos que sejam.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Obra feita


A imagem não faz jus à obra. Ontem já passava da meia noite quando acabei de desenhar a rainha nas moedas. Não havia muita luz e tirei a fotografia com o telemóvel - a bateria da máquina foi-se. Mas estou inchada de orgulho. Cosi a sarapilheira dos lados e na zona dos ombros, abri os buracos para os braços e fiz as bainhas, fiz a faixa por onde passa o elástico em baixo, abri os buracos por onde passa a corda dourada na zona do pescoço, cortei o símbolo da libra em tecido e colei-o, preguei os botões, forrei-os com papel de alumínio e desenhei a rainha com caneta dourada. Foram três serões, mas valeu a pena. Está um saco de moedas perfeito.

Agora é só esperar até dia 1 de Dezembro para ver a Laura com ele vestido a cantar «We are family». Tenho a certeza de que vai ser a menina mais bonita da festa de Natal da escola.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Numa casa portuguesa fica bem


Obrigada, Ty, é fantástico!

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Magusto














Só faltou mesmo a jeropiga.

Shepherd's Bush Market


Esta manhã, depois de ir levar a L. à escola, fui em busca de material para lhe fazer o fato para a festa de Natal. Apanhei o 49 até White City e andei até ao Shepherd's Bush Market. Entrei numa outra dimensão. São duas longas filas de bancas e pequenas lojas onde se encontra de tudo: frutas e hortaliças frescas, tecidos, animais de estimação, malas, peixe, carne, panelas, esponjas, roupa, lençóis, toalhas, plásticos, guarda-chuvas, chapéus, sapatos, louças, bijuteria. Fez-me lembrar a feira de Espinho, mas de tamanho bastante menor e sem os pregões dos ciganos. Ao contrário daquela, a localização das bancas não é compartimentada e encontramos o peixe entre os tecidos e os animais de estimação e a roupa interior ao lado das bacias de plástico. Mesmo assim, não é difícil encontrar o que precisamos. Comprei sarapilheira, cordão, linha para coser e fita preta para o fato. E, para minha alegria, encontrei também carapaus frescos e castanhas, para celebrarmos o São Martinho ao jantar. Regressei a casa com um sorriso nos lábios e com a certeza de este mercado vai fazer parte da minha rota semanal.

Dente de leão














É oficial: apesar de praticamente invisível a olho nu, o primeiro dente do D. saiu cá para fora. Está na altura de mudar de chupetas.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Comp clubs

Esta manhã, enquanto tomava banho, ouvi na BBC Radio 4 uma reportagem sobre grupos de concorrentes. Passo a explicar: são pessoas que dedicam cerca de 1 a 2 horas diárias a concorrer a concursos, sejam lançados pelos cereais da manhã, pela agência de viagens do bairro ou pela revista semanal da sua preferência. Ao fim-de-semana chegam a passar 5 a 6 horas à procura de mais concursos para mandar fotografias, frases, códigos de barras ou cupões. E o mais estranho é que formam clubes para trocarem informações.

Ao imaginar como estas pessoas devem ser solitárias, fico feliz por ter conseguido ultrapassar o vício de telefonar para a rádio durante a minha adolescência. Cheguei a ganhar um disco dos Sétima Legião e um jantar num restaurante em Esmoriz. Em todo o caso, comecei a guardar as provas de compra das bolachas digestivas, não vá um dia haver um sorteio qualquer.

Ciclo da água

Toda a gente sabe como é a sensação de beber uma bebida demasiado quente e sentir o tubo digestivo a queimar-se até ao estômago. Hoje experimentei uma sensação diagonalmente oposta. Ao sair à rua, senti o ar frio entrar-me pelas narinas e percorrer o sistema respiratório até aos pulmões. Quando regressei a casa, as estalactites e estalagmites que se formaram na faringe, laringe, traqueia e brônquios foram-se lentamente desfazendo até ao estado gasoso e embaciaram os vidros da sala. Aproveitei para escrever nas janelas impropérios contra as condições climatéricas adversas.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Alice já não mora ao lado

Poucos dias depois de nos mudarmos para esta casa, fomos convidados pelos vizinhos do andar de baixo, uma mexicana e um alemão, para uma festa para celebrar o seu casamento. Foi uma óptima oportunidade para conhecermos os vizinhos e nos sentirmos integrados. Como é natural, as crianças começaram imediatamente a brincar umas com as outras. Alguns gritos e choramingos depois, deu para perceber que os três filhos da holandesa e do belga do rés-do-chão não se iriam dar muito bem com a L. Até que chegou a Alice, a menina inglesa, nossa vizinha da frente. Aos saltinhos pela relva, lá veio brincar com a L. e, embora não conseguissem falar uma com a outra, entenderam-se lindamente. Foi a primeira amiga que a L. fez em Londres. Todos os dias, ao chegar a casa, a Alice metia a mão pela nossa ranhura do correio e fazia bater a pala. Era o sinal para abrirmos a porta e a deixarmos entrar. Muitas vezes ficaram as portas de entrada abertas para elas correrem, ora para uma casa, ora para a outra, e brincarem e trocarem brinquedos. Quando se encontravam no parque, era uma festa. Gritavam o nome uma da outra e lá iam a correr para o escorrega.
Há três dias que não ouvimos barulho à nossa porta. A Alice mudou de casa e sentimos saudades dela.

Voltei, voltei

Regressámos da nossa primeira visita à pátria. Foi bom voltar a pôr os braços e os pés de fora, passear por Alcântara, tomar o pequeno-almoço no Galão, cortar o cabelo, arranjar as mãos e os pés, comer frango assado do Resina, trincar um pastel de nata, ir à farmácia comprar reservas de medicamentos e não só, cantar duas vezes os parabéns à L., ir à pediatra, rever os amigos, conhecer as filhas dos amigos, conversar com o ilustrador dos livros da Bruxa Mimi, ouvir falar português em todo o lado. À chegada a Londres, encontrámos o frio e a chuva. Mas soube bem vestir o pijama, ligar o aquecimento e beber uma chávena de chá, enquanto conversávamos sobre como é bom ir a casa. Voltaremos em breve.