quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Três


















Parabéns, L.!

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Rua dos Plátanos














Nasci e cresci em Espinho, na segurança de uma cidade em que as ruas, numeradas, são (quase) todas paralelas e perpendiculares. À excepção das grandes palmeiras que acompanharam a minha infância na avenida da casa dos meus pais (e que agora moram umas quantas ruas acima) e de algumas árvores mais vistosas numa ou noutra rua, não se pode dizer que Espinho seja uma cidade muito arborizada. Ainda assim, o meu imaginário infantil tem muito presente a Rua 31. Era a rua que subia para ir para a catequese, para o posto médico e, mais recentemente, para o cabeleireiro ou para o Multimeios. Se a rua tivesse um nome em vez de um número, chamar-se-ia Rua dos Plátanos. E poderia bem ser o cenário para a história «Beatriz e o Plátano», de Ilse Losa, que marcou a minha geração.
Anos depois, regresso àquele imaginário cada vez que saio de casa e caminho em direcção ao Holland Park. A rua está cheia de plátanos enormes, bem maiores do que os que conhecia na Rua 31. Na semana passada, de regresso do parque infantil, a L. e eu divertimo-nos a descobrir quantos tons poderiam as folhas caídas das árvores tomar. E trouxemos um bocadinho dos plátanos para casa.

domingo, 25 de outubro de 2009

Lightaholics Anonymous

A hora mudou e começo a temer pela minha sanidade mental. O meu humor andou sempre de mãos dadas com a luz solar - apesar de haver estudos que indicam que a falta de luz e de sol não influencia o estado psíquico e a felicidade das pessoas. E o cenário começa a ficar sombrio.
Hoje pouco passava das 5 da tarde e já estava a escurecer. Às 6 já era noite cerrada. Senti-me desvanecer com a luz. Nem quero pensar no que irá acontecer quando chegarmos a Dezembro. Noite às 3 da tarde? Tenho de procurar um grupo de ajuda rapidamente. Enquanto isso, aguardo com ansiedade que as montras substituam as abóboras pelos Pais Natais. Sairei pela manhã em busca de luzinhas para pendurar nas janelas em substituição do sol.

Fiel amigo


Ontem voltámos a reabastecer a despensa, desta vez na 'Delícias de Portugal', na Warwick Way, em Victoria. Comprámos muito bacalhau, muitas alheiras, uma morcela, um chouriço, pescada n.º 3 para cozer, peixe para caldeirada, croquetes e bolinhos de bacalhau para fritar, arroz Saludães, batatas fritas Barrosãs, salsichas Nobre, Nestum, Cerelac, bolachas de Água e Sal, línguas de veado, doce de abóbora, rebuçados de fruta Penha, pão saloio e broa de milho.
Hoje, domingo, apesar de não termos convidados, deliciámo-nos com um belo bacalhau com broa acompanhado de batatas a murro. Até a L., que insiste em dizer que não gosta de bacalhau, rapou o prato.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Episódio matinal

Esta manhã, decidi caprichar no visual: uma saia, sapatos altos, um lenço. Antes de sairmos, pergunto à L.: «A mãe está maravilhosa?» «Não.» «Não?!» «Falta qualquer coisita.» Olhei para baixo a ver se tinha tudo como deve ser. «Falta um baton de cieiro. Tens os lábios muito secos.»

Vá para dentro lá fora














Chegamos dia 30!

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Playback

Em Londres, há impressões com as frases «look left» e «look right» em quase todos os passeios. Seguramente para evitar um grande índice de atropelamento de turistas e imigrantes recentes. No entanto, vai levar muito tempo até me habituar a olhar para o lado certo antes de atravessar a estrada. Para já, continuo a olhar primeiro para a esquerda, como se os carros circulassem à direita. Mas depressa me apercebo que aqui é ao contrário e volto vigorosamente o pescoço para a direita, para ver se vem algum carro antes de pôr o pé na estrada. Sinto-me uma espécie de Carlos Paião a fazer coreografias antes de atravessar a rua. «Em playback! Tum, tum! Em playback! Tum, tum! Em playback!»

domingo, 18 de outubro de 2009

Dona de casa desesperada

«Mãe, ainda não me disseste onde fica a Gradiva de Londres.» Quando a L. se saiu com esta, senti o chão fugir-me debaixo dos pés. Não há Gradiva de Londres. E agora?
É a primeira vez que estou desempregada. Foi a terceira vez que entreguei uma carta de demissão, mas esta foi a mais dolorosa. Pelo simples facto de ter de abandonar um trabalho que adoro. E por não ter assegurado um novo emprego.
Felizmente, as rotinas diárias de quem tem duas crianças pequenas não deixam pensar muito no assunto. Mas quando a L. me fez esta pergunta, caí em mim e fiquei desarmada. «A Gradiva é em Lisboa. Aqui em Londres, a mãe vai ficar em casa a tomar conta de ti e do mano.» Ela aceitou, mas franziu o sobrolho, como quem diz «mas isso é trabalho?!». Pois não é. Mas é a minha ocupação actual: dona de casa. Às vezes um bocadinho desesperada.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Carrinhos à solta

Enquanto continua a fazer sol, os nossos fins-de-tarde e fins-de-semana têm sido passados sobretudo em parques infantis. É claro que estes são locais de concentração de mães, pais e crianças, mas não deixo de me espantar com a quantidade de bebés e carrinhos de bebés que há em Londres. Chegando a um qualquer parque, gera-se habitualmente um parqueamento improvisado para os carrinhos de bebés. Outros são deixados à beira dos bancos de jardim ou junto aos gradeamentos. São poucos os pais que mantêm os carrinhos ao pé de si.
Sempre ciosa dos meus pertences, comecei por não me afastar dos meus carrinhos de bebés enquanto a L. e o D. se divertiam pelos parques. Mas cedo me apercebi que não havia razão para preocupações. Ninguém se detém a vigiar o seu carrinho porque aparentemente ninguém rouba carrinhos de bebés. Não é coisa que se faça. Parece haver um respeito instituído e inquebrável pelos objectos relativos à maternidade. Assim como não se tira um chupa-chupa a uma criança, também não se rouba um carrinho de bebé.
Hoje deixei o carrinho à entrada do parque e fui a correr com a L. para o pneu-baloiço gigante. E foi muito divertido.

Vida selvagem


Vida selvagem no jardim das traseiras. Só faltam as raposas que nos vêm visitar de vez em quando.

Orgulho nacional














Eu também tenho orgulho nacional, não são só os ingleses.

domingo, 11 de outubro de 2009

Lago dos cisnes














Fim de tarde em Kensington Gardens.

Iniciação ao inglês

Na sua iniciação ao inglês, a L. começou a dizer algumas palavras e a usá-las com o sentido e no momento certos. Sabe dizer quase todas as cores, os dias da semana, contar até dez, dizer «sim», «não», «bom dia», «até logo», «até amanhã», «obrigada», «de nada», «com licença», «por favor», «desculpa» e mais algumas palavras de que agora não me recordo. Este fim-de-semana, para além de um «mummy» e um «daddy» deliciosos, fomos prendados com uma música tradicional: «Twinkle, twinkle, little star». Só que, neste último caso, ela não faz a mínima ideia do que está a dizer. Canta porque gosta de cantar, mas não percebe as palavras que diz e inventa metade. É enternecedor. Faz-me lembrar a minha infância, quando cantava as músicas que ouvia na rádio mas deturpava tudo. Pensando bem, ainda hoje faço o mesmo.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Falta de concordância

Há qualquer coisa de estranho na forma de vestir das mulheres londrinas (e aqui cabem todas as nacionalidades que coabitam em Londres). É certo que o tempo muda rapidamente, e até admito que seja difícil decidir o que vestir de manhã, já que à tarde pode o clima estar completamente diferente. Ainda assim, há pormenores que me causam muita confusão. Vejo mulheres de sandálias e casaco de fazenda; mulheres de vestido de alças e botas de pelo de carneiro; mulheres de calções pela bochecha do rabo sem meias e camisolas de lã de gola alta; mulheres de mini-micro-saia sem meias e blusão de penas. A imagem que mais me espantou foi a de uma mãe a empurrar no carrinho um bebé muito agasalhado, com casaco e carapuço, tapado com uma manta quentinha, e com os pés de fora, nus. Têm de concordar que isto tem o seu quê de falta de concordância. O sujeito e o verbo andam de costas voltadas nas ruas de Londres. E causam arrepios.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Próxima estação

Tenho memórias muito vivas da minha infância, em que o ano se dividia claramente em quatro partes não iguais. O clima era mesmo diferente consoante estávamos no Inverno, na Primavera, no Verão ou no Outono. E os sinais de que as estações estavam a mudar eram claros.

Este ano, tive a oportunidade de reviver essas memórias de infância. No final de Setembro, lá estavam as árvores a alaranjar e a começar a desfolhada. As ruas e os parques de Londres estão cheios de folhas no chão. Na minha rua, com tantas árvores, às vezes é difícil ver o passeio. E o jardim verde nas traseiras está todo salpicado de laranja.

O frio já começou, entretanto, a chegar – moderadamente, como era de esperar. E depois de quase um mês sem chuva, lá regressou ela para dar a Londres o seu ambiente mais natural.

O mais estranho no meio disto tudo é que, ouvindo as notícias de Portugal, soube que o país foi assolado pelas cheias, enquanto por aqui continua tudo dentro da normalidade.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Os guardanapos

O Tiago acha que são as alcatifas que definem os ingleses. Eu acho que são os guardanapos. Ou a falta deles. Numa ida a um supermercado qualquer, depressa se percebe que os ingleses só usam os guardanapos para festas. A escolha é muito reduzida. São quase sempre coloridos, estampados, com folhas grossas, de qualidade, e em pacotes de 25 unidades. Mal se encontram nas prateleiras. Preço médio: uma libra e meia. Por outro lado, há filas inteiras de lenços de papel em caixas, os tissues.


Recusando-me a pagar o semelhante por um pacote de guardanapos que se deitam fora a cada utilização, passei por uns tempos a usar os rolos de cozinha na mesa - até ir ao ikea e me abastecer com uns 15 pacotes de 100 unidades a uma libra e trinta e nove pences cada. E reflecti longamente sobre o assunto. Cheguei às seguintes hipóteses:

- ou os ingleses são tão civilizados que não sujam a boca quando comem;
- ou usam os tissues para limpar a boca;
- ou estão constantemente doentes, com o nariz a correr, e perdem o apetite;
- ou ficam tão deprimidos com o mau tempo, que passam o tempo a chorar e deixam de comer.

Se esta última teoria se verificar verdadeira, espero pelo menos que não seja contagiante.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

17

Faz hoje 17 anos que parti de Espinho e cheguei a Lisboa Santa Apolónia com duas singelas malinhas e muita angústia no coração. Tinha 17 anos. Nunca tinha estado tão longe de casa, nunca tinha vivido sozinha. Os primeiros tempos foram difíceis e nunca pensei que algum dia ficasse a viver em Lisboa. Era uma cidade demasiado grande. Passava o tempo a contar os dias que faltavam para apanhar o comboio inter-regional das sextas-feiras depois das aulas.
Constato agora que, não só fiquei a viver em Lisboa, como 17 anos depois estou a mudar-me para uma cidade maior. O que me leva a pensar onde estarei daqui a 17 anos. Não há mesmo forma de prever onde a vida nos leva.

domingo, 4 de outubro de 2009

Almoço de domingo

Aproveitando o fim-de-semana, ontem fomos passear a pé. Atravessámos o Holland Park, chegámos a Notting Hill e, depois de um gelado italiano, percorremos a Portobello Road (o Tiago faz uma boa descrição no seu blog). Lá mais para o fundo da rua, virando à direita, encontrámos uma pequena concentração de lojas portuguesas. O minimercado Lisboa, a papelaria e retrosaria Lisboa, a pastelaria Lisboa e o café O'Porto. Enquanto o Tiago comprava croquetes e pães-de-leite na pastelaria, abasteci, como qualquer emigrante exemplar, a nossa despensa de papa Cerelac, arroz Cigala carolino, atum Bom Petisco, alheiras de Mirandela, bolachas Maria da Triunfo e bacalhau demolhado e ultracongelado de uma marca manhosa qualquer.

Hoje, domingo, convidamos a Gisela, o Sanjiv e o Ricardo para almoçar. Também cá está a Paula, a irmã do Tiago. Preparei um almoço tipicamente português: um belo bacalhau no forno, com alho, pimento e azeite (português, claro), acompanhado de batatas a murro. Só faltou mesmo a broa. Para a sobremesa, mousse de chocolate, morangos e gelado de baunilha. Um regalo.

Já estou a pensar no próximo almoço de domingo.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A segurança dos objectos

Todos os processos de mudança são difíceis para quem passa por eles. Mesmo quando envolvem uma certa aura de aventura. O apoio da família e dos amigos é essencial para tornar o processo mais suave, mas acredito que, mais do que isso, precisamos de nos ver rodeados de objectos pessoais para nos sentirmos em segurança.

A sensação de voltar a ver as minhas coisas quando abri os caixotes de cartão foi reconfortante. E agora que já arranjámos novos sítios para os nossos livros, para os álbuns de fotografias, para o quadro do casamento sul-americano pintado pela minha irmã, para a ventoínha da minha avó, para a minha bola de voleibol, sinto-me finalmente em casa. E que bom que é estar em casa.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Bom augúrio

No exacto dia das mudanças, e com tamanha excitação, a L. sofreu um pequeno desarranjo intestinal. Para além de várias calças sujas e banhos de banheira, ainda tive de lidar com um outro problema: as manchas na carpete imaculada da minha casa nova. Em vez de ficar zangada, decidi interpretar isto como um sinal de boa sorte.